Olá,
Vimos acompanhando, com preocupação e repulsa, as agressões e violações feitas constantemente na região da Luz, no centro de São Paulo, em território conhecido como "Cracolândia", que se intensificaram com o projeto higienista do atual Prefeito João Doria, aliado do governador Alckmin.
Escutamos em loco depoimentos de profissionais e voluntários que integram a rede de saúde e assistência no local, além de moradores da região, inclusive os que estão no chamado "Fluxo".
Sem dúvida, todos relatam o aumento das agressões a população por parte das policias, que têm como consequência, por exemplo, o medo de crianças frequentarem escolas com receio de acabarem sendo vítimas da ação da polícia.
Também, nesse momento, todos vivem a tensão de que a "Cracolândia" vai sofrer intervenção policial, inclusive as/os profissionais que lá trabalham nos projetos de saúde e assistência, têm recebido “sugestões” da administração de que deixem a área. Alguns se negam a fazer isso e mantêm seu trabalho nas ruas e hotéis da região.
Sabemos que a imagem que é veiculada em grandes meios de comunicação, se restringe a ressaltar apenas o uso compulsivo de drogas e o tráfico destas, desconsiderando o pulsar da vida do bairro, um dos mais antigos da querida Sampa, advindo de inúmeros comércios e casas de famílias/moradores que lá estão há anos. Muitas dessas pessoas estão sendo despejadas com indenizações irrisórias. Um dos motivos das desapropriações é a provável construção de mais um “Hospital Pérola Byington” (Centro de Referência da Saúde da Mulher), que a despeito de ser importante, por outro lado, causará a desmobilização de uma comunidade, que sequer tem perspectiva de outro lugar para morarem conjuntamente e dignamente. Certamente a mulher que inspirou o nome do Hospital, relutaria em ver uma obra com seu nome, impor a mulheres e seus filhos e filhas uma situação como essa.
A especulação imobiliária está de olho na região, com empresas já adquirindo prédios com valores baixos para que possam instalarem-se ou vender os prédios futuramente quando a área, mais uma vez, expulsar para as periferias a população empobrecida. Há relatos de que uma empresa de seguros já está adquirindo prédios na região.
Também, já está em construção um conjunto de moradias “Populares”, cujos critérios, segundo relatos, impedirão que sejam incluídas as pessoas que estão em situação de rua. Aliás, critérios de inclusão dessa população passam longe das políticas da atual Prefeitura de São Paulo, que oferece emprego, na apregoada parceria Público-Privado, em empresas exigindo “boa aparência” e todos os dentes, por exemplo.
O Movimento "A Craco Resiste", que facilitou nossa visita na área, compôs um dossiê, que segue em anexo, denunciando agressões advindas de forças de policiais e outras formas de violência vividas, cotidianamente, por pessoas que vivem e frequentam esse território já tão estigmatizado. No documento, constam relatos e fotos dessa violência contra os usuários de drogas e população de rua.
Reafirmamos que estamos alinhados a ações que busquem cuidar da saúde e do prazer de quem usa drogas, seja de modo recreativo seja de modo compulsivo, mas com ações de assistência e saúde, não como ações policiais. Temos absoluta certeza de posição técnica e científica que nos coloca sempre contrários a intervenções violentas, internações compulsórias e ações que se afastem de estratégias de redução de danos.
NUCED
https://drive.google.com/file/d/0BwI3ov41jnJ6Y2xQenhJZWpheEU/view?usp=sharing
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