POR RICARDO PIMENTEL MÉLLO
– ON 10/07/2017
CATEGORIAS: COMPORTAMENTO, DESTAQUES, SOCIEDADE
Publicado em: http://outraspalavras.net/destaques/masculinidade-e-o-cuidado-de-si-para-alem-de-priapismo
É preciso rejeitar os corpos
violentamente caracterizados como masculinos, mergulhados na “ilusão de que ser
homem bastaria”. Sempre duros e alertas, eles desconsideram o cuidado de si
Por Ricardo
Pimentel Méllo | Imagem: Nicolas Poussin, “Hymeneu
travestido durante um sacrifício a Príapo (1634).
Como
falar de dois temas tão amplos ligando-os para que formem um campo de estudos?
Segundo os rumos de Bruno Latour (2000), importa criar controvérsias em campos
de estudos, tensionar temas de estudos e pesquisas, para ampliar nossas formas
de compreender a vida sem “monopolizar os caminhos da produção de saberes”
(MÉLLO, 2015, p. 40).
Quando
se agregam dois termos como “saúde” e “masculinidades” podemos, de antemão,
imaginá-los como categorias pré-definidas e universais. Para não alongar essa
introdução, aproveitamos as reflexões históricas de Almeida Filho (2011) sobre
o conceito de saúde. Até final da década de 1940, considerava-se saúde como o
estado de ausência de doença. Foi quando a Organização Mundial de Saúde
“reinventou o nirvana e chamou de ‘saúde’: ‘estado completo de bem-estar
físico, mental e social, e não meramente ausência de doença ou incapacidade’ ”
(ALMEIDA FILHO, 2011, p. 07). De um lado teríamos o ser completo (o ser saudável),
e, de outro, algum ser incompleto por isso doente. Claro que se tratava de uma
definição, como diz o autor, advinda de um “novo misticismo sanitário” (ALMEIDA
FILHO, 2011, p. 07).
No
mesmo século XX, vimos a nossa Constituição Federal “surfar” na onda da era dos
direitos tão bem detalhada por Norberto Bobbio (1992), definindo que saúde é
direito de todos e cabe ao Estado garanti-la. Isso ampliou a contenda sobre o
termo “saúde” e colocou os meios acadêmicos a debatê-lo, criando-se o campo da
“saúde coletiva” (ALMEIDA FILHO, 2001). Começou-se a problematizar a
saúde-doença, em busca de um atendimento integral às pessoas, baseado em
princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), também instituído na mesma
Constituição de 1988.
Certamente,
o debate continua, mas em ares menos idealistas que aqueles da década de
quarenta descritos acima. Portanto, a saúde que estamos aqui debatendo
refere-se ao campo da saúde coletiva, logo, está para além do privado,
particular, individual. Saúde se faz em práticas onde o que está em jogo é o
viver humano, ou, se quisermos, o sobreviver humano, que, como disse, faz-se em
práticas coletivas. Desta forma, não deveríamos buscar um conceito universal,
que se sustenta em “equilíbrio” e “harmonia”, como se isso fosse possível, ainda
mais descolado das práticas cotidianas humanas. A vida é exaustiva e prazerosa,
ou, como nos ensinou Nietzsche (2005), “tragi-cômica”, acalentada no mal-estar
de sermos mortais. Desta forma, a saúde deve ser pensada como busca de amparo e
cuidado diante dos mal-estares da vida cotidiana.
Sobre
“masculinidades”, novamente podemos cair na tentação de vender a nossa vida ao
universalismo que tende, a despeito do cotidiano de práticas as mais diversas,
nos envelopar em categorias monolíticas. Do mesmo modo que tratamos o termo
saúde, “masculinidades” se fazem em práticas que criam modelos:
… não se pode afirmar que os valores tradicionais de
gênero, especialmente aqueles traduzidos pelo modelo tradicional (hegemônico)
de masculinidade, se apresentem em suas características puras no perfil ou
identidade de todos os homens […], haja vista se perceber que transitam entre
modelos diferentes de masculinidades, ou seja, possuem características que
demarcam práticas tradicionais e ao mesmo tempo incorporam outras que escapam
delas. (MENDES e SANTOS, 2016, p. 52).
Partimos do princípio de
uma violência primordial na formação da humanidade, qual seja: a construção de
gêneros baseados em diferenças de órgãos genitais. Como se trata de uma
violência formativa, que nos dá “borda”, “desenho” ou certa configuração como
condição para nos tornarmos humanos, sempre questionaremos até que ponto um
homem pode ser, por exemplo, feminista, na medida em que jamais viverá as
agruras de uma mulher, que advêm menos de seu “sexo biológico” e mais de sua constituição
como mulher. Mas da mesma forma jamais uma mulher, mesmo “machista” sofrerá as
agruras de um homem, também advindas de sua constituição como tal. Portanto,
não estamos no campo das “percepções” (“como você se percebe”), mas nos
localizamos no campo das “constituições” (“como você se fez e se faz”), que é o
campo das nossas práticas coletivas, ou “modos de viver”. Assim, a violência
primordial que nos constitui é transformar “pedaços de carne viva” em corpos
humanos, que expressarão masculinidades e feminilidades. Certamente nenhum de
nós negará as diferenças em tais corpos vivos. Mas, para fazer dessas
diferenças constituições de gênero, há um longo e difícil processo que se
realiza em hierarquizações de modelos de viver. Destarte, queiramos ou não,
concordemos ou não, saúde é marcada também por essa violência hierárquica.
Parto desse pressuposto.
Com requintes de
crueldade, os seres humanos formaram-se. Não bastou diferenciar corpos em
gêneros, mas, como temos a “real ilusão” de ver cores e nuanças, eis que
constituímos corpos, dentre homens (e dentre mulheres), que são coloridos com
as tintas de mais violência: são corpos vivos, mas, muitas vezes, “abjetos”
(BUTLER, 2008), que não têm importância se morrerem, desde que haja outros para
substituí-los. Refiro-me, por exemplo, a homens “negros” ou “vermelhos” (esta
última cor advinda do urucum que colore indígenas em nosso país).
Nessa linha de
raciocínio, devemos sempre nos perguntar quando tematizamos a saúde: a quem nos
referimos? A que “carne viva”? Que “cor” tem essa carne? E mais, em que
categoria econômica é inserida?
Dou um exemplo. Em nota
sobre as chacinas que acontecem nos presídios brasileiros, o Núcleo de Estudos
sobre Drogas (Nuced) nos diz: “… para esta população [de encarcerados, jovens empobrecidos
e negros] se oferece o que se tem de pior em termos de educação, saúde e lazer.
Basta comparar os hospitais onde os políticos são internados em São Paulo (como
o Hospital Sírio Libanês) com os hospitais públicos à disposição da população
empobrecida” (Blog do Nuced)1.
Essa situação é do
conhecimento de todos e de todas quem leem esse texto. Muitos podem até já não
aguentar mais falar disso, sem que se vislumbre alguma solução. Assim, gêneros,
masculinidades ou feminilidades, constituem corpos como se fossem humanos, em uma
violência primordial, com requintes de crueldade, porque gênero é dispositivo
de poder
… que […] incide sobre as relações humanas,
estabelecendo as expressões normativas autorizadas para as expressões de
masculinidades e de feminilidades. Através desse dispositivo seriam demarcados
os espaços de circulação autorizados para os gêneros (espaços exclusivos para
homens; para mulheres; espaços LGBTTTI – lésbicas, gays, bissexuais, travestis,
transexuais, transgêneros e intersexuais; espaços de meretrício; espaços
religiosos, etc.), assim como de sua temporalidade existencial enquanto
expressão e modos de ser e de viver. (SOUZA, et. al., 2011, p. 78).
Falar desses corpos é
agir constituindo-os. Falamos em certa direção, portanto agimos em certa
direção. E há séculos falamos criando corpos, discriminando-os. Isso nos remete
a duas coisas: de onde a pessoa fala e sobre o que fala. Em meu caso, falo de
uma posição privilegiada pelo simples fato de ser branco, mas também, ocupar
certa camada econômica e participar do mundo acadêmico. Certamente, minha saúde
tem os indicadores que advêm dessa posição, que me permite ter acesso a
condições mais adequadas de cuidado de mim. No entanto, também apresento a
comum face da “masculinidade”, marcada pelo fato de eu ter um pênis. Isso me
coloca na circunstância de risco de me imaginar forte e potente, que poderia me
levar a certo desleixo com a saúde, mascarado pela dedicação em construir um
corpo atlético, devidamente “definido” por músculos realçados e restringir meu
cuidado a isso.
No campo do que chamamos
de saúde, não temos como esconder a dificuldade que corpos violentamente
caracterizados como masculinos vivem a “ilusão de que ser homem bastaria”, ou de
que o “mundo masculino tudo lhes daria, daquilo que quisessem ter”. Eis aí a
charada da saúde marcada em verso e música por Gilberto Gil: vivemos a ilusão,
experimentada em diversas práticas, de que somos corpos masculinos, mas o pior
é desejar tudo o que esse masculino deveria nos dar, ou seja, a potência de
sermos fortes o suficiente para descuidarmos de todas as outras potencialidades
“femininas” que poderiam ser vividas em um corpo com pênis. Eis aí a violência
primordial que criou corpos desejantes de gênero para firmar-se como viventes,
desconsiderando o cuidado de si.
Poderíamos reproduzir
aqui as dezenas de estatísticas de morte, prisões, crimes em que jovens homens,
negros, empobrecidos são constituídos e têm certa visibilidade, como no 27º
Relatório Mundial da organização Human Rights Watch, que afirma:
Um fator chave para o drástico aumento da população
carcerária no Brasil foi a lei de drogas de 2006, que aumentou as penas para
traficantes. Embora a lei tenha substituído a pena de prisão para usuários de
drogas por medidas alternativas como o serviço comunitário – o que deveria ter
reduzido a população carcerária –, sua linguagem vaga possibilita que usuários
sejam processados como traficantes. Em 2005, 9%dos presos haviam sido detidos
por crimes associados às drogas. Em 2014, eram 28%, e, entre as mulheres, 64%,
de acordo com os últimos dados disponíveis. (HUMAN RIGHTS WATCH, 2017, s/p).
Mas, poupando-nos dessa
dança que se faz sob a música de estatísticas em repetição infinda, cabe
perguntar: como multiplicar nossos corpos para que as masculinidades se
misturem com as feminilidades, menos para darem a ilusão de que não temos
diferenças, e mais para nos darem cores múltiplas que precisam ser cuidadas em
suas singularidades? Em outras palavras, cabe perguntar: como você deseja? Eis
uma questão de partida que deve ser considerada fundamental na conversa sobre
masculinidade e saúde.
Freud criou, ou, se
quisermos, inventou conceitos para exemplificar instâncias ou dispositivos que
nos formam violentamente. Citamos um deles acima, que é a lei que nos ordena
como masculinos, que adotamos sem nos dar conta, ou seja, inconscientemente.
Não é novidade para ninguém essa regulação que nos favorece certa constituição
como humanos. Para essa regulação, que funciona como lei, Freud deu o nome de
“Super-eu” (Superego): “O super-eu é para nós o representante de todas as
restrições morais, o advogado de um esforço tendente à perfeição” (FREUD, 1996,
p. 72). É portanto um dispositivo que pretende nos regular a todos e, no
exemplo particularmente em relação ao masculino, regula os que temos pênis de
modo universal, desconsiderando que nenhum órgão nos torna seres com atitudes
específicas e com forma padrão. Assim, a lei diz, para os que temos pênis,
sobre o que somos proibidos e sobre aquilo que nos é permitido. Isso avança
pelos demarcadores de cores e categorias econômicas, já que um pênis negro e
empobrecido tem leis formativas diferenciadas de um pênis branco e rico. Não
devemos escamotear essas diferenças, mas certamente nos querem como pênis
sempre “duros”, segurados por mãos heteronormativamente delicadas (as supostas
mão femininas), se não forem as nossas próprias. O “Super Eu” surge nas
proibições que desconsideram o “eu”, o singular, e regulam nossa sexualidade e
por consequência nos impõem dispositivos de gênero que, no caso masculino, quer
um pênis que nunca “amolece”. E aí todos os masculinos vão sofrer,
metaforicamente ou não, de “priapismo”: ereção dolorosa e persistente, sem
desejo sexual.
Explicando a imagem que
foi criada no parágrafo anterior, a nossa saúde tem como principal inimigo a
lei do “priapismo” que nos funda como masculinos: devemos, excessivamente e
persistentemente, sermos homens, como se isso significasse deixar de cuidar de
si. Repetindo: sempre duros e alertas sofremos do “priapismo” que nos funda
como lei, que não nos permite sermos criativos, que nos quer iguais só pelo
fato de termos pênis, que são tão diferentes. Essa regulação sexual foi criada
e é reproduzida por todos nós, acoplando-se a várias outras regulações, sem
hierarquias: “… já não é possível dizer que a diferença sexual é anterior à
diferença racial, nem tampouco considerá-las como eixos completamente
separáveis de regulação social e poder” (BUTLER, 2008, p. 262. Tradução nossa).
Não somos os mesmos masculinos. Somos múltiplos masculinos e temos de ter isso
como ponto de partida para pensarmos nosso cuidado em saúde. Temos de combater
essa lei que nos forma como desejantes de uma masculinidade e restringe nossos
desejos.
É importante
conjecturarmos sobre quais práticas de cuidado temos com nós mesmos que
favorecem a saúde pessoal e coletiva. É decisivo que possamos, também, falar de
saúde e masculinidades de um outro modo que o sustentado pelos discursos: sem
medicinas, sem doenças, sem biologicismos, sem patologicismos. Deveríamos sim
expor sobre nossas “linhas de fuga” e resistências aos padrões de “priapismo”.
Nessa linha, finalizamos com um exemplo, desejando que outras vozes/textos
também ecoem mais modelos.
Participamos do Núcleo de
Estudos sobre Drogas (Nuced), que está vinculado ao Departamento de Psicologia
da Universidade Federal do Ceará. Em seu blog estão
descritas diversas ações desenvolvidas buscando favorecer a autonomia de cada
pessoa que delas participa, para que consigam gerir o uso que fazem de
substâncias psicoativas, sejam as lícitas, sejam as ilícitas. Mas tem,
particularmente, há um ano e meio, uma atividade considerada uma ação de saúde
que visa questionar a lei fundamental que nos violentou e nos constituiu como
masculinos. Trata-se da “Oficina da Boa Viagem”.
A “Oficina da Boa Viagem”
é uma ação feita como estratégia de Redução de Danos (RD), com dois aspectos
que parecem ser fundamentais para nossa discussão aqui: o primeiro é que coloca
a ética do cuidado de si em pauta; segundo, porque é feita por uma “drag”
que coloca em xeque as masculinidades como sendo formatadas por padrões. Em
relação a este último ponto (o questionamento de padrões de masculinidade),
questionamos a definição padrão de que “drag” seja um “homem que se
veste com roupas extravagantes de mulher e imita voz e trejeitos tipicamente
femininos”. Como não há padrões, “drag” define-se mais pela exuberância
com que se monta do que por trejeitos ou por feminilidade. Entendemos que
superamos essa conversa sobre padrões, amplamente discutida no texto.
Quanto à ética do cuidado
de si, seguimos os rumos propostos por Foucault (1985; 2004). Expondo de modo
breve, Foucault propõe uma retomada do conceito de cuidado de si (epimeleia
heautou) como ética, ou modo de viver, nos moldes propostos pelos gregos no
mundo helenístico. Não se trata de uma proposta que visa louvar o
individualismo moderno ou transformar ações de saúde coletiva em ações de saúde
privadas, moralistas, ou apropriadas por certa espiritualidade cristã. Ao
contrário, Foucault nos mostra que o cuidado de si na antiguidade tinha a
peculiar forma de práticas de si, como condição de possibilidade para o cuidar
de outros. Em resumo, o mote desta ética do cuidado de si é: “cuide de si para
cuidar de outros”, ou “quem não cuida de si, não consegue cuidar de outros”.
Como afirmou Foucault, o cuidado de si não é “um exercício da solidão, mas sim
uma verdadeira prática social” (FOUCAULT, 1985, p. 57). Não é um renunciar a
si, mas saber de suas possibilidades e limites para também ter potência no
cuidado de outros. No campo da saúde, portanto, o cuidado de si deve
potencializar ações de cuidado de outros.
Eis então que no Nuced,
incomodados com a recepção que se faz a calouros na Universidade e
particularmente no curso de Psicologia, começamos a organizar oficinas de
cuidado de si direcionadas a discussões sobre uso de drogas e práticas amorosas
e sexuais. Partimos do conceito de risco, detalhado por Mary Jane Spink e
colegas (SPINK 2000a; SPINK 2000b; SPINK et. al. 2002; SPINK et. al. 2008;
SPINK, 2010) que, no caso em que trabalhamos, é entendido como forma de viver
contemporânea que visa aventurar-se (risco-aventura). Pois bem, nessa oficina,
fazemos discussões sobre os riscos relacionados ao uso de drogas e sexo,
distribuímos material informativo sob a forma de fanzines, além de
preservativos. Claro que o bom humor é a liga que permeia toda a oficina, que
visa despertar estudantes ao cuidado de si para que, compreendendo tais
cuidados, possam favorecer ações de redução de danos com outros colegas do
curso ou fora da universidade. Mesmo em uma oficina que também tem a
participação de mulheres destacamos os cuidados que homens devem ter desde esse
primeiro momento de entrada na Universidade, deixando explícito que o que se
costuma chamar, genericamente, de “formação machista”, impele ao descuidado
para consigo e também o descuidado para com outros.
Realizamos uma ação, logo
no ingresso de estudantes no curso, como forma de resistir às agarras do mundo
capitalista que a tudo quer tornar mercadoria e fazer com que o individualismo
impere. Assim, destacamos uma “drag” para que, de forma divertida, sejam
questionados padrões de masculinidade que, por si só, já colocam a saúde de
homens em risco, favorecem violências as mais diversas e só intensificam
individualismos.
As ponderações feitas
neste texto não se ativeram a saúde em contraponto a doença, mas foram na
direção do tema “Saúde e Masculinidades”, entendendo-o como um campo amplo de
estudos e ações: assinalamos que a violência primordial de nos regular como
masculinos nos impede de manifestarmos nossos desejos de modo menos
circunscritos, porque a lei quer que desejemos como homens. E, portanto, o
cuidado com nossa saúde será transversalizado por esse desejo “masculino”.
Se fosse possível um dia
falar com Gilberto Gil, deveríamos agradecer-lhe por sua obra, em especial a
música citada no texto. No entanto, seria fundamental pedir-lhe uma pequena
mudança, inspirada em Nietzsche: que a sua música trocasse o termo
“super-homem” por “além de homem”. Nietzsche nos diz: “O homem é algo que
deve ser superado”. Continuando, pergunta: “Que fizestes para superá-lo?”
(NIETZSCHE, 2000, p. 36). Certamente o filósofo não estava se referindo
exclusivamente a homens no seu sentido restrito, mas cabe muito bem sua
questão: que estamos fazendo para deixarmos de ser só homens e irmos além?
Respostas a tal pergunta
não são simples. Poetas como Rilke nos dizem pelo menos sobre como poderíamos
proceder em respostas práticas: não nos procurarmos como adversários, uma vez
que os sexos têm “mais afinidade do que se considera”, qual seja, “a difícil
sexualidade” que nos foi atribuída. (RILKE, 2006, p. 47).
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