segunda-feira, 4 de maio de 2020


POR QUE NÃO DEVEMOS VOLTAR ÀS AULAS PRESENCIAIS OU REMOTAS AGORA

De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos,
 as nuvens desenrolam-se, lentas como, quem vai inventando preguiçosamente uma história sem fim...
Sem fim é a aula: e nada acontece, nada... Bocejos e moscas. (QUINTANA, 2005, p. 30)

Nas instituições de nível superior (IES), sejam públicas ou privadas, temos sido pressionados para continuar nossas atividades curriculares, e não cancelarmos o semestre letivo. As IES particulares exercem pressão, tendo como instrumento de “negociação” o próprio emprego dos docentes e, majoritariamente, decidiram não interromper as aulas e manter o chamado “Ensino à Distância” (EaD). Neste caso, se algum professor não as ministras remotamente ¾ mesmo alegando que tais atividades exigem experiencia singular, com didática e materiais específicos para ser ministrada com qualidade ¾ poderá ser demitido. Nas IES públicas, a demissão sumária sem discussão com toda a comunidade acadêmica, pelo menos em tese, é inadmissível. Em assim sendo, desejo somar argumentos a essa discussão sobre se mantemos ou não as atividades curriculares, nesse momento de crise sem precedentes, onde somam-se grave pandemia e grave crise política no Brasil.
Certamente este é o momento mais difícil de toda uma geração, em que a defesa da saúde humana, vem imiscuída de tantos temas como: solidariedade, pobreza, destruição do mundo, vida pós e transumana, etc. Deste modo, nos determos em cronogramas acadêmicos em meio a uma pandemia mortal, não me parece razoável. Deixo ainda mais claro: em isolamento social, nós professores, alguns funcionários administrativos e estudantes, não nos isolamos dos afetos que emergem do que está acontecendo na vida social brasileira e mundial. Que afetos são esses?
1) Está ocorrendo um total desrespeito a dignidade humana, especialmente de empobrecidos que, se antes eram obrigados a se aglomerar em favelas, agora também são obrigados a se aglomerar em filas de auxílios financeiros e alimentares e filas de hospitais, tendo de decidirem se morrem de forme em casa ou se morrem pelo novo coronavírus em busca de miseráveis seiscentos reais.
2) Se antes o colapso capitalista de exclusão e assassinato de negros descendentes de escravos era abafado, agora o vírus fez tudo isso vir à superfície de modo explícito, sem que ninguém possa mais esconder. E vemos uma política, lamentavelmente exitosa, de ausência absoluta de solidariedade pelos moradores de favelas, empobrecidos propositalmente por um sistema econômico excludente, que agora, como sempre, tem a frente, só que de modo desvelado e extremoso, um governante que zomba daqueles que estão morrendo. Voltar as aulas como se nada disso estivesse acontecendo, é exigir de nós, a mesma frieza, elencando temas que possam distrair a atenção de estudantes e lhes anestesiar a sensibilidade à dor do outro. E se por acaso, nos determos a discutir essa situação, seremos execrados, pelos que exigem a nossa volta, porque querem exatamente isso: que a ciência se ajoelhe aos pés da mediocridade que nega o outro como parte da nossa vida, e nega ou outro a ter uma vida digna. O outro para poucos, mas muito bem organizados, nada vale, se não se ajoelham ao mundo autoritário que zomba de quem não segue sua cartilha de morte e não hesita em puxar o gatilho a quem se opõem ao seu caminho.
3) Todos nós profissionais de saúde sabemos que sem respiradores a morte por COVI-19 aumenta drasticamente. O vírus inunda o pulmão de líquido e não se pode respirar sem máquina. Quanto mais, apoiarmos um certo “Brasil” que nega essa realidade, fingindo que nada disso está acontecendo, ministrando aulas, contribuímos para que pessoas, imaginem esse mundo de normalidade e, como consequência, voltem às atividades cotidianas que realizam antes da pandemia, ignorando-a. Essa normalidade que insisto em dizer, se faz na absoluto desprezo pelo outro que julgamos não ser um igual. Voltar às aulas, é mantermos a zona de conforto das universidades que, em um passe de mágica, não se sentem desconfortáveis com uma pandemia mundial que simplesmente põem em risco a vida humana, especialmente, a vida humana que muitos insistem em considerar desprezível: a dos humanos negros, descendentes de humanos que foram  escravizados, assassinados  e empobrecidos.
4) No Ceará, onde vivo e agora sobrevivo, os leitos de UTI, onde os respiradores são item obrigatório estão com números assustadores, quase 100% ocupados. Deu pra entender? Já começaram, pelo país afora, a ocorrer mortes que poderiam ser evitadas se o SUS tivesse sido prioridade de todos os governos anteriores a pandemia. Os governos da chamada esquerda, construíram o SUS, um sistema de saúde pública com gratuidade universal, muito bem estruturado, mas que precisa de investimentos financeiros e de profissionais com essa perspectiva de saúde coletiva e pública. Mas, negociaram o Ministério da Saúde e, de certo modo, favoreceram o seu desmonte a ponto de hoje termos mortes que poderiam ser evitáveis sim.  Montar novas UTIs mesmo que em hospitais de campanha, é muito complicado para ser feito em tempo curto, ainda mais quando o Governo Federal bolsonarista expulsou médicos e terminou a parceria com a OPAS, alegando, insanamente, o curso de uma revolução comunista. Àquela altura dos acontecimentos nos calamos e, agora, colhemos os frutos podres dessa política de desmonte do SUS. Mas, querem que tenhamos tranquilidade para voltar às aulas sem tocar nesse assunto. Querem uma ciência em redoma mentirosa, pregando, como insanos, que a sociedade brasileira está caminhando, porque as “instituições funcionam”. Resta discutirmos nessas aulas: funcionam para quem? Podemos discutir isso? Ou daremos continuidade a formação de profissionais enredomados na busca de lucros, mesmo diante do sofrimento alheio?
5) Vivemos o pior momento para termos uma pandemia: governo neofascista e com alguns dirigentes de universidades pressionados para que colaborem com o Governo, mantendo a vida em cidades Potemkin (o marechal Grigori Alexandrovich Potemkin, no século XVII, na Rússia, em região devastada por guerras, montou uma cidade cenográfica no caminho por onde passava a Tsarina Catarina da Rússia, para iludi-la de normalidade). As universidade não podem colaborar com a montagem de cidades “Potemkin”, onde professores montam cenários em aulas presenciais ou não, para que os seus dirigentes locais e nacionais, (isso inclui o  Ministro da “Educação”), desfilem elogiando uma falsa “normalidade”, armada com dinheiro público e ciência imersa em si mesma, sem qualquer sensibilidade a vida humana que, no Brasil, hoje, ultrapassa sete mil mortos. Em uma das maiores emoções vividas no Brasil, a lamentável queda do avião com a equipe da Associação Chapecoense de Futebol, havia a bordo 77 passageiros, dos quais apenas seis sobreviveram. Hoje no Brasil, temos cerca de 90 “aviões” que caíram lotados de brasileiros afetados pelo novo coronavírus e sequer temos o luto oficial do Governo Federal, ao contrário, quer que voltemos à normalidade das “aulas Potemkin”.
6) O que caracteriza esse Governo é a ignorância aliada à perversão, que unidos a pandemia, já estão proporcionando um efeito devastador sobre todos nós, pois além das milhares de mortes atuais que poderiam ser bem menores caso tivéssemos adotado oficialmente o isolamento social e financiado brasileiros para que não precisassem circular em busca de sobrevivência (nem vou agora questionar essa forma de esmola).
7) Esse será o item mais longo, em busca de cartografar o presente.
Potencializado em nossa “sociedade de risco”, em nossa “modernidade tardia (BECK, 1998; SPINK, 2001; MÉLLO & FRANÇA, no prelo), há um trauma coletivo, que é advindo de muitas situações, que vão desde as mortes que acumulam corpos de semelhantes aos milhares, em um necessário luto coletivo, até a sensação de perda de tempo por simplesmente termos parado a cadeia produtivista, que só destrói, e que provocou a disseminação do vírus em um capitalismo acelerado que não admite o “fechamento de portos” ou a suspensão das produções. Portanto, que fique explícito que estamos vivendo um trauma coletivo. Entendo o conceito de trauma como uma ruptura que provoca certa descontinuidade da vida, que gera desprazer que, algumas vezes, pode ser da ordem do insuportável. Forças sociais nos invadem com conteúdos consciente e inconscientes que são disruptivos e nos lançam inúmeros questionamentos: quem sobrevive, como sobrevive, quem morre, quais motivos dessa morte? Devo continuar a vida no mesmo ritmo, fazendo as mesmas coisas, com as mesmas pessoas? Que mundo queremos pós-pandemia? Como pode haver pessoas que desprezam o diferente, desprezam a morte alheia? etc. Isso tem efeitos diversos que vão de podem impulsionar para mudanças e/ou podem provocar paralisias (característica da vida humana em dualismos pulsional tão bem descrito pelo nosso velho Freud, nos idos de 1920). Não é simples viver tudo isso ignorando e evitando reconhecer o momento de graves perdas que estamos vivendo.
O aumento do silêncio das ruas e cidades, grita em nosso mundo menos afoito, pedindo passagem a outra coisa que nem sabemos bem o que é. As mortes e nossa reclusão (que parece infinda), se unem com certa vivência do tempo, (este ¾ inspirado em Edgar Allan Poe ¾ entendo como cadeia de acontecimentos em trama) e dão a sensação de um mundo parado ou em retrocesso (não sei qual a sensação pior). Porém, estamos mergulhados em cadeias de acontecimentos que nos forçam a enfrentar a nossa finitude e o que ainda devemos e podemos viver. Claro que isso gera angústia e o silêncio do isolamento se faz grito em cada um nós, que busca sobreviver. Claro que buscamos sobreviver o tempo todo na sociedade capitalista excludente, mas nem nos damos conta. Só que agora a “conta” nós é apresentada.
As consequências da vida em isolamento não têm sido fáceis para ninguém. Exigindo de nós trabalho nas circunstâncias que descrevi antes. É sabido que o isolamento aumentou a violência doméstica e o uso abusivo ou compulsivo de algumas drogas, certamente os ansiolíticos. A vida chega ao seu limite suportável, quando somos impedidos de circular, tendo sido formados como animais nômades. Não podemos desprezar essa situação de tensão, zombando dela como da morte e do luto de outrem. Sim, nós professores também estamos com dificuldades de produzir, de preparar aulas como se nada disso estivesse acontecendo, de preparar debates que não sejam os de refletir, detidamente, sobre a pandemia, sobre o descalabro da resposta do Governo brasileiro a ela. E ainda tendo de nos dedicar a escrever o óbvio, para colegas professores e estudantes que, em fuga da “realidade”, exigem que retomemos nossas atividades “à distância” do momento grave em que o mundo humano está passando, e o Brasil, ainda mais, pois enfrenta pandemia e o vírus do autoritarismo e ignorância políticos. Não podemos exigir que estudantes, esqueçam tudo que está acontecendo e se concentrem em nossas aulas que pretendem aumentar sua alienação dos acontecimentos presentes. Voltar as atividade curriculares é como se disséssemos: estudantes, esqueçam as suas mortes familiares, a luta diária para se manterem vivos, permaneçam religiosamente antenados nas nossas aulas e nos trabalhos e provas que terão de fazer, esqueçam as notícias de morte de parentes e amigos, esqueçam o luto, anestesiem-se com nossas aulas e trabalhos. Fiquem paralisados em suas dores à espera do beijo redentor dos príncipes doutores, que enveredam pelo caminho de morte desse sistema mórbido. Ouçam a voz dos doutores que menosprezam a situação atual brasileira e suas dores, permaneçam trabalhando, aprendendo, estudando. Até podem se divertir e fazer compras, bastando ter uma rede virtual e digitar algumas palavras-chaves na Internet. É super simples continuar a vida, “basta transferir a sua vida real para a virtual, um upload e pronto, temos uma nova vida prontinha para você na segurança do seu lar”, como afirmou, criticamente, a jornalista Camila Goytacaz em texto recente (https://medium.com/@camilagoytacaz/luto-e-celebra%C3%A7%C3%A3o-no-isolamento-social-1a693f4e7bfe).
8) Voltar às aulas então, seja por videoconferência ou por modo presencial, e de forma consciente ou não, é ignorar o que está acontecendo, e fazer parte da perversão mortal em curso. Eu, e colegas professores, não temos condições de, em luto por atuais 5.000 mortes e milhares de outras em curso, ministrar aulas ignorando tudo isso. Exigir que estudantes também ignorem tudo isso e se concentrem no que vamos ministrar é ser perverso tanto quanto um governo que diz pra todos que ignorem a pandemia e voltem a normalidade. Não queremos entrar nessa lista da tanatopolítica.
9) Para se ter ideia ministro uma disciplina com 50 estudantes que se aglomeram na sala. Os estágios e atividades de Pesquisa e Extensão que coordeno são em regiões da periferia com maior índice de morte por COVID-10. E acreditem, regiões onde os grupos de tráfico de drogas resolveram aproveitar a pandemia para ampliar suas guerras territoriais com mais mortes. Temos mais esse quadro violento para assentar em nossas análises.  Não vou colocar estudantes em risco de forma nenhuma. Digo aos defensores de atividades virtuais a qualquer custo, sequer podemos continuar atendendo as pessoas que acompanhávamos, e isso nos angustia, porque várias delas vivem nas ruas sem celular, e tantas outras não tem acesso regular a Internet. Sim prezadas e prezados, não estamos falando de atendimentos higienizados em salas confortáveis de consultórios particulares. Estamos falando de uma Psicologia, que vai além dos muros protegidos das universidades e se imiscui nas periferias como todos deveriam fazer em nossas universidades públicas. Sequer estamos conseguindo manter contato, por meio de celular, com as pessoas que estávamos acompanhando. Elas se dispersaram e quiçá estejam bem de saúde e vivas. Estão lutando para sobreviver, em filas intermináveis em portas de bancos ou em portas de hospitais.
Em vias de finalizar, digo-lhes que não está sendo fácil cartografar o Olímpio da mediocridade política em sua versão caricata da Tradição Família e Pátria (TFP). Mas foi o que tentei fazer acima, tentando mostrar que, paradoxalmente, uma ausência de atividades curriculares, é também presença importante da vida universitária na sociedade, instigando e dando exemplo de cuidado de si e de outros.
Diante do exposto, com esse quadro de nossas cidades sem enfeites natalinos, enfeites carnavalescos, ou se preparando para as festas juninas, sem enfeites que poderiam disfarçar situações de luta contra a morte, devemos defender o cancelamento do semestre e suspensão de todas as atividades acadêmicas curriculares, exceto aquelas onde podemos exercer a função de educadores que vai para além do cumprimento curricular e se faz em atuação ética de preservar a vida. Ou seja, nada é mais urgente agora do que o cuidado em saúde de si e de outros.
Devemos ser favoráveis a suspensão de todas as nossas atividades acadêmicas curriculares e cancelamento do semestre, até que haja condições de um retorno mais regular, e em situação de menor gravidade de adoecimentos de todos os tipos. Isso é lamentável por um lado, na medida em que amamos trabalhar na universidade pública; também, importante, por outro lado, porque amar esse trabalho, nos impõem, agora, a suspensão das atividades curriculares para preservar a cada um de nós, para que voltemos mais potentes.
Que nós, professores e pesquisadores, estudantes e funcionários administrativos, em conjunto com os que exercem a difícil função de gerir as universidades públicas (sofrendo pressão de governos insensíveis às nossas dores), resistamos a volta da “normalidade” e, novamente possamos dar o exemplo de que não há como defender, cientificamente, a ignorância dos que insistem em desconhecer a gravidade do momento que vivemos. Que a lição para a sociedade em geral seja a de que as universidades públicas, mesmo em “isolamento”, nos mantemos mobilizados e sensíveis as dores do mundo. Ainda que sendo atacados intensamente e com orçamentos reduzidos, 95% da produção científica do Brasil nas bases internacionais deve-se a nossa dedicação e capacidade de pesquisa nas universidades públicas. Por isso, mais do que nunca, defendemos a universidade pública gratuita e crítica e o fortalecimento do SUS. À sociedade brasileira importa mais essa defesa que cumprimentos curriculares formais, sem o compromisso urgente de defender a vida. A maior lição que temos agora é a de entender que todas as saídas para a fluidez da vida humana, são coletivas.
Lembro que, sem exceção, todos os eventos científicos importantes da Psicologia, (como o Encontro de Pesquisadores da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP) e encontros de saberes afins (Saúde Coletiva, Saúde Mental, por exemplo), foram adiados por tempo indeterminado. Isso demonstra a capacidade de profissionais pesquisadores acadêmicos, em compreender que não estamos vivendo um momento simples, a ponto de exigir que, de uma hora pra outra, nos reuníssemos, presencialmente ou virtualmente, insensíveis ao que nossos agrupamentos sociais, no mundo todo, vivem.
Voltar às atividades curriculares, com o mundo impedido de entrar em nossas aulas tediosas e sem fim, é dar aulas às moscas. É momento de cuidarmos, para que, em período seguinte, sem pandemia, todos voltemos ainda mais dedicados, com saúde, para as atividades curriculares, deixando as portas e janelas universitárias abertas, para que o mundo entre e continuemos a recriá-lo.
Fortaleza (CE), 04 de maio de 2010.

Prof. Dr. Ricardo Pimentel Méllo
(Professor Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará)

Referências:
FREUD, Sigmund. Más allá del principio de placer [1920]. Tradução de José L. Etcheverry. In: FREUD, Sigmund. Obras completas. Vol. XVIII. Buenos Aires: Amorrortu editores, 2006.
POE, Edgar Allan. O gato preto. In: Histórias Extraordinárias. Trad. Brenno Silveira. São Paulo: Abril, 2003. p. 35-49.
QUINTANA, Mario. Lili inventa o mundo. Rio de Janeiro: Global, 2005.
MÉLLO, Ricardo Pimentel; França, Luara da Costa. Sociedade de risco e securitarização da vida: o “adolescente perigoso” e a produção do “tipo suspeito”. In: Rosa, Pablo Ornelas; Moraes, Pedro Rodolfo Bodê de; Souza, Aknaton Toczek; Moraes, Maristela de Melo. Drogas e Sistema de Justiça Criminal (no prelo).
SPINK, Mary Jane Paris. Trópicos do discurso sobre risco: risco-aventura como metáfora na modernidade tardia. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 17, n. 6, Dec. 2001. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/csp/v17n6/6944.pdf. Acesso em 8 de março de 2002.

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