
OS EQUÍVOCOS DE SLOGANS VAZIOS E OUTROS DEBATES
A Revista Internacional de Direitos Humanos - SUR, publicou no mês de agosto último um Dossiê sobre Drogas e Direitos Humanos, com textos temáticos sobre as políticas de drogas no Brasil e em outros países, problematizando o impacto do proibicionismo e da guerra às drogas para as populações afetadas direta ou indiretamente pela violência e outras formas de violação de direitos.
Para começar destacamos um texto do neurocientista estadunidense Carl Hart, que analisa o slogan da campanha brasileira “Crack é Possível Vencer”, apontando os equívocos de tal mote que não consegue dimensionar adequadamente o consumo de crack no Brasil e contribui para a manutenção de mitos difundidos na mídia e em muitas discussões de especialistas sobre o tema tal como o da dependência no primeiro uso da droga.
Hart lembra que quase 80% dos usuários de crack não vão desenvolver
dependência relacionada à droga e que, por outro lado, aspectos econômicos e
sociais implicados na problemática do uso do crack não são explicitamente apresentados
em campanhas governamentais, o que ajuda a reforçar a impressão de que o tráfico
e os traficantes são responsáveis por toda a violência e criminalidade existentes
em cidades como o Rio de Janeiro.
No texto, Hart convida a que se supere a educação simplista sobre
drogas, que se resume a apontar que substâncias não devem ser usadas sem que se
discuta efetivamente o tema. Algo grave que é silenciado é o fato de que grande
parte dos recursos públicos destinados para o enfrentamento do crack no Brasil
está destinado à repressão e não a campanhas ou ações que visem ampliar as informações
sobre o uso, muito menos o cuidado das pessoas que tem problemas de saúde
relacionadas ao consumo.
O dossiê da revista apresenta ainda textos sobre os avanços das
políticas de drogas no Uruguai, na África e na Ásia, além de dois artigos muito
oportunos e esclarecedores sobre a próxima Sessão Especial da Assembleia Geral
da ONU sobre drogas, a ser realizada no início de 2016. A Assembleia é apontada
pelos autores dos textos como uma oportunidade histórica para os
Estados-membros da ONU mudarem o sistema ineficaz pautado pelo proibicionismo,
já que o Regime Internacional de Controle de Drogas (RICD) tem gerado violações
sistemáticas de direitos humanos e liberdades fundamentais.
Por fim, destacamos um artigo de Luís Fernando Tófoli sobre
políticas de drogas e saúde pública, no qual o autor discute o real impacto da
implementação da redução de danos no Brasil e as tensões geradas na
concomitância com a lógica da abstinência, destacando as contradições
existentes nesse processo, entre elas, os financiamentos públicos das
comunidades terapêuticas que minam a política oficial de redução de danos. O NUCED já se posicionou em
outras oportunidades sobre esse tema e continua contrário a esse financiamento,
que já desvia recursos da saúde que poderiam ser direcionados aos CAPS-ad por
exemplo.
A leitura do Dossiê, além de atualizar e ampliar o debate sobre os
impactos da proibição nas políticas sobre drogas no Brasil e no mundo, aponta a
necessidade de conhecer mais sobre a Assembleia da ONU de 2016 sobre drogas,
infelizmente ainda pouco debatida no país, o que é inaceitável tendo em vista
sua importância no cenário internacional e os impactos que suas deliberações geram
nas políticas sobre drogas em todo o mundo.
Segue o link para a leitura completa do dossiê: http://sur.conectas.org/
Texto de:
Maristela Moraes
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