sexta-feira, 6 de novembro de 2015


PARA QUE(M) SERVE O SAMU?

O Manual Instrutivo da Rede de Atenção às Urgências eEmergências no Sistema único de Saúde (SUS), e a portaria que define a diretrizes do SAMU nos indicam de modo muito semelhante que esse serviço:

“É o componente da rede de atenção às urgências e emergências que objetiva ordenar o fluxo assistencial e disponibilizar atendimento precoce e transporte adequado, rápido e resolutivo às vítimas acometidas por agravos à saúde de natureza clínica, cirúrgica, gineco-obstétrica, traumática e psiquiátricas mediante o envio de veículos tripulados por equipe capacitada, acessado pelo número “192” [...].

O que poderia ser considerado como urgência psiquiátrica está diretamente relacionado as “Diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental”, que inclui “Atenção integral a usuários de álcool e outras drogas”, por meio da Reforma Psiquiátrica advinda com a Lei Federal 10.216/01.

Como exemplo bem explícito temos a posição da  Secretaria de Saúde de Minas Gerais  que publicou em seu site a descrição do que é “Atendimento em urgência psiquiátrica para adulto”:

"O serviço de urgência psiquiátrica atende adultos que sofrem uma alteração no pensamento (delírio) ou alteração nas ações (atos agressivos), situações que precisam de atendimento rápido, pois está associado a risco de vida. São os casos de pessoas que ficam irritadiças sem ter um motivo aparente e começam a agredir a elas mesmas ou às pessoas que estão a sua volta.
Este serviço atende pacientes em situação de alteração nas condições mentais, decorrentes do uso de drogas (destaque nosso). [...]
Para o atendimento de urgência, deve-se encaminhar o paciente para as unidades [...] ou chamar o resgate por meio do Corpo de Bombeiros (193) ou pelo SAMU – Serviço de Atendimento Móvel (192).”

Mas o SAMU em Fortaleza (CE)  parece desconhecer suas finalidades no que se refere a as urgências específicas relacionadas a “saúde mental”.
Com autorização reproduzimos a descrição de uma pessoa que comprova o que dizemos:

“Queria dar meu boa noite e obrigado ao (não)serviço prestado pelo SAMU psiquiátrico. Hoje, ao presenciar um episódio onde uma pessoa claramente apresentava sinais de início de um surto, precisei acionar o SAMU. Tentei acalmá-lo, mas não funcionava. Passei cerca de 10 minutos ao telefone, comuniquei o que estava acontecendo e cheguei até a dar o endereço do local. Depois de tudo isso, perguntaram se o rapaz tinha feito uso de alguma substância (grifo nosso) e quando respondi não saber, me colocaram na espera. Bem, [...] após a musiquinha infinita, me pediram pra ligar pra polícia alegando que esta, CASO JULGASSE NECESSÁRIO, poderia pedir o auxílio. Insisti dizendo que se eu liguei, é porque era necessário, mas só ouvi um ‘boa noite’. A polícia chegou depois de horas, tirou o rapaz do local à força (grifo nosso) [...]. Sorte que um conhecido do rapaz chegou e o levou embora. Fico aqui me perguntando: e se o rapaz tivesse sob efeito de drogas? Cabe à polícia decidir o que fazer com ele? (grifo nosso) Se o consumo de droga fosse um sintoma de mania (ou outro transtorno)? Quer dizer que levar alguém algemado é a melhor solução? E se ele não tivesse consumido nada? Nem sei mais o que dizer, só espero que ele fique bem".

Trata-se de um relato importante que só deixa explícito o despreparo do SAMU (e da Polícia) advindo do preconceito relacionado ao uso abusivo de drogas.

Este caso foi tornado público, mas certamente, há outros até com vítimas fatais que nos chegam como relato no NUCED.
“Surto” seja lá por qual motivo ou qualquer outro problema de saúde onde ocorrem situações agudas ou de crise, inclusive se houver relação com o uso de drogas lícitas ou ilícitas, deve sim ser motivo de acionamento do SAMU.


3 comentários:

  1. Muito importante difundir essa informação, para que não fique nenhuma dúvida sobre o papel do SAMU

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  2. Concordo Cássio, não faz sentido o SAMU trabalhar em suposições moralistas, e esse fato é o exemplo de como outros públicos também sofrem. É uma cultura de indiferença com o sofrimento alheio.

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