terça-feira, 10 de novembro de 2015

PESQUISA APONTA EFEITOS ANTIDEPRESSIVOS DA AYAHUASCA EM PACIENTES COM DEPRESSÃO RECORRENTE

 Em seu último número a Revista Brasileira de Psiquiatria publicou pesquisa da psicóloga Flávia de L. Osório e colegas sob o título: “Efeitos antidepressivos de uma única dose de ayahuasca em pacientes com depressão recorrente: relatório preliminar” (“Antidepressant effects of a single dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a preliminary report”).

A Ayahuasca (AYA), popularmente conhecida como "Daime" ou "Mariri", é constituída de um chá feito da mistura de plantas amazônicas, com importante uso religioso seja por etnias indígenas seja pela população ribeirinha amazônica (p.ex. o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal e o Centro Eclético de Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra).

Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ayahuasca>


Quando ainda da existência do Conselho Nacional Antidrogas (CONAD), este emitiu uma Resolução (Nº 4 - 4 de novembro de 2004), “considerando a importância de garantir o direito constitucional ao exercício do culto e à decisão individual, no uso religioso da ayahuasca”, reconhecendo a legitimidade jurídica “[...] do uso religioso da ayahuasca, [...]” retirando das espécies vegetais proibidas, até então mantida por decisão do antigo “Conselho Federal de Entorpecentes – CONFEN”  (Resolução, n° 06, de 04 de fevereiro de 1986).


A pesquisa que nos referimos foi levada a efeito no Departamento de Neurociências e Comportamento, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na cidade Ribeirão Preto, em uma unidade de internação psiquiátrica com os seguintes resultados:
“Foram observadas reduções estatisticamente significativas de até 82% nos escores de depressão entre os valores iniciais e 1, 7 e 21 dias após a administração AYA, como medido na Hamilton Rating Scale for Depression (HAM-D), the Montgomery-Asberg Depression Rating Scale (MADRS), e na Anxious-Depression subscale of the Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS).”  (p.13) (Tradução nossa).

Concluíram também que a administração AYA não apresentou mudanças significativas na medição com a Young Mania Rating Scale (YMRS) nem na subescala de transtorno do raciocínio da BPRS, “[...] sugerindo que AYA não induz a episódios de mania e/ou hipomania em pacientes com transtornos de humor” (p.13).

Os principais antidepressivos disponíveis no mercado são constituídos baseados na hipótese da “monoamina”:  sugere que a ocorrência de um desequilíbrio em monoaminas cerebrais (como a dopamina, a norepinefrina e a serotonina) é responsável pela sintomatologia depressiva (p.13). A administração desses antidepressivos têm efeitos adversos como: alteração do apetite e sono, alterações gastrintestinais (p.ex., diarreia e obstipação), sudorese, retenção urinária, alergias de pele, alterações no peso, náusea, tontura, tremores. Alguns podem até, contraditoriamente, ter o efeito de aumentar ansiedade e agitação, seja nos primeiros dias de tratamento ou por um longo tempo.

Por isso, a pesquisa utilizou a Ayahuasca (AYA), verificando se ela seria uma potencial candidata para uma nova geração de antidepressivos, como um fármaco que produziria efeitos imediatos e mais pronunciados que os antidepressivos.

Estudos citados no artigo verificaram que o uso ritual prologando do chá por membros de grupos religiosos não fez com que essas pessoas apresentassem problemas psiquiátricos, psicológicos ou neuropsiquiátricos causados por AYA (p.14). Neste particular afirmam: “Na verdade, há vários relatos que descrevem que problemas de saúde mental são reduzidas em usuários de AYA” (p.14) (Tradução nossa). Ressalte-se que os estudos são ainda escassos e estão em seu início.

De todo modo a conclusão da pesquisa nos anima: “Os resultados do presente estudo demonstram que AYA tem efeitos antidepressivos agudos significativos e bastante impressionantes” (p. 17) (Tradução nossa).


Referência:

— Osório, F. de L.; SANCHES, R. F.; MACEDO, L. R. H.; SANTOS, R. G.; OLIVEIRA, J. P. M.; WICHERT-ANA, L.; ARAÚJO, D. B.; RIBA, J. ; CRIPPA, J.A.S. ; HALLAK, J. E. C. Antidepressant effects of a single dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a preliminary report. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, v. 37, p. 13-20, 2015.

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