segunda-feira, 20 de maio de 2019

I Parada do Orgulho Louco do Ceará - 18 de Maio - Dia da Luta-Antimanicomial.

Foto com um casal dançando, um placa com a frase 18 de maio dia Nacional da Luta Anti-manicomial, trancar não é tratar. No fundo a praia de Iracema, em Fortaleza.

Acordei sábado bem cedo e tinha três compromissos para o mesmo turno da manhã. Isso porque muitas vezes esqueço das coisas quando não registro na minha agenda. Acabo olhando para a agenda vazia e pensando “esse dia está livre, posso marcar meu compromisso para ele”. E assim eu acabo marcando diversos compromissos para uma mesma data, sem fazer nenhum registro sobre. Apesar disso, escolhi sem dúvidas o meu destino: a I Parada do Orgulho Louco, uma manifestação que teve sua concentração na Estátua da Iracema Guardiã, na Praia de Iracema (Fortaleza, CE), e seguiu até o Aterrinho da Praia de Iracema. No aterrinho, um palco nos esperava com apresentações artísticas de bandas e um espaço de tribuna livre para que pacientes da Rede de Atenção Psicossocial, profissionais e militantes pela causa da Luta Anti-manicomial pudessem se manifestar, passando seus conhecimentos e os porquês da sua luta para outras pessoas que ali estavam curtindo uma praia em um sábado de sol maravilhoso. É claro, tudo isso também foi montado para que pudéssemos nos divertir - e o dia não poderia ter sido mais divertido. Crianças, jovens, adultos e idosos conversavam, dançavam, divertiam-se. Clairton, artista plástico, vendia sua arte, enquanto jovens comiam um bolo e outros dançavam forró. O dia parecia fácil de se viver, aqueles dias gostosos de levantar da cama. A sensação é de que há tempos um dia não era fácil assim.

Foto de um pintura com fundo assim e vários rostos desenhados

Ali estava eu diante dessa construção conjunta que proporcionou tantos sorrisos e cuidado, desde o ato de passar protetor solar em pessoas desconhecidas que estavam ali se queimando, até dançar forró, quadrilha, abraçar o outro, desabafar e ser ouvido, receber um copo d’água, cantar uma música. Um espaço feito para expressividade, um momento que envolveu luta e cuidado. Ali se reuniram pessoas que não tinha medo de ser o que eram, e que se colocaram ali, afirmando ser quem eram, com orgulho, antimanicomiais e, sim, loucos. Fora da norma se assim se é, fora da norma se assim desejam. Como dizia Belchior, citado em cartazes trazidos na manifestação, “a minha alucinação é suportar o dia-a-dia”, e penso, certamente, que para suportar, é que produzimos espaços como estes, de cuidado, expressão, de poder ser o que se é sem julgamentos (ou com menos deles!).
Nós somos anti-manicomiais porque somos pela liberdade, pela diversidade, pela diferença. Não tema o que é diferente. Não nascemos para viver no isolamento. Repetimos: trancar não é tratar. Trancar não é cuidar!
Lutamos por um cuidado ético e uma saúde pública de qualidade e, por isso, somos contra as mudanças na Política Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes da Política Nacional sobre Drogas (nota técnica 11/2019) e contra o governo Bolsonaro e as suas medidas que vão na direção oposta da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001) e do respeito às diferenças.

Ainda lembrando Belchior, “amar e mudar as coisas me interessa mais”.
Manicômios? Nunca mais!


Thamyllis Lima.


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