"Comunidades Terapêuticas: levantamento inédito aponta falta de transparência e de padrões de políticas públicas"
Estamos divulgando algumas das conclusões que fazem parte do levantamento inédito realizado pela Conectas Direitos Humanos e pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Intitulado “Financiamento público de comunidades terapêuticas brasileiras entre 2017 e 2020”, o documento foi divulgado nesta segunda-feira (25).
As CTs (Comunidades Terapêuticas)
– entidades privadas de privação de liberdade para tratamento de pessoas que
fazem uso problemático de drogas – receberam, entre 2017 e 2020, o total de
R$560 milhões do poder público. Todo esse montante, que é somado entre as
esferas federal, estadual e municipal, tem tendência de aumentar nos próximos
anos. De um ponto de vista orçamentário, a aprovação da Lei Complementar
187/2021, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, dá direito às CTs de
buscarem imunidade tributária, uma espécie de financiamento público indireto.
Segundo o estudo, as Comunidades
Terapêuticas oferecem, declaradamente, tratamento baseado no isolamento, na
abstinência e na espiritualidade. A
pesquisa revela que não há padrão de fiscalização e transparência sobre o tipo
de serviço contratado, sobre a composição de seu custo, dos seus insumos, dos
produtos esperados e, principalmente, de seu impacto e de sua efetividade como
política de tratamento, o que deveria orientar a administração pública.
De acordo com a advogada Carolina
Diniz, assessora do programa de Enfrentamento à Violência Institucional da
Conectas e coordenadora do projeto que originou o relatório, a falta de
definição precisa sobre a natureza das CTs dificulta o controle público e de
setores da sociedade dedicados à defesa dos direitos humanos e ao
acompanhamento do uso de verba pública.
Na esfera federal o total
financiado (2017-2020) em valores nominais foi de R$293 milhões, o que
corrigido pelo valor da moeda para 2020, o montante atingiu R$309,3 milhões. O
aumento de 2017 a 2020, em valores corrigidos, foi de cerca de 109%. A
distribuição por região foi (em ordem): Sudeste (36%); Sul (28%); Nordeste
(22%); Centro-Oeste (9%) e Norte (5%). Em proporção por 100 mil habitantes, o
estado que mais recebeu foi Alagoas, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do
Sul.
O relatório acompanha um parecer
jurídico que analisa a Lei Complementar 187/2021, que incluiu as instituições
CTs como elegíveis à Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência
Social e, portanto, beneficiária de imunidade tributária. Segundo o parecer, a
inclusão das CTs representa, na prática, a criação de uma quarta categoria de
organização imune às contribuições sociais (impostos), ao arrepio da
Constituição Federal.
Além disso, criou-se um tratamento
legislativo não isonômico com relação a outras espécies de pessoas jurídicas
sem fins lucrativos atuantes nas áreas relacionadas, mas não reconhecidas como
assistência social, saúde ou educação. A pesquisa ressalta ainda que a Lei
Complementar foi aprovada sem a
realização de estudo de impacto orçamentário e financeiro, e, portanto,
estimativa da renúncia fiscal do Poder Executivo, contrariando a previsão da
Emenda Constitucional 95, através do Art. 133.
Fonte para você ler mais: https://www.conectas.org/noticias/comunidades-terapeuticas-levantamento-inedito-aponta-falta-de-transparencia-e-de-padroes-de-politicas-publicas/?utm_campaign=newsletter_-_abril_2022_pt&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
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