MAIS UM GOLPE EM AÇÕES DE CUIDADO EM SAÚDE
QUE TÊM A PERSPECTIVA DA REDUÇÃO DE DANOS
[AGORA NA
BAHIA]
“O Ponto de
Cidadania” é um
projeto, financiado pela Superintendência de Prevenção e Acolhimento
aos usuários de Drogas e Apoio Familiar (SUPRAD), vinculada à Secretaria de
Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), do Governo do
Estado da Bahia, e era executado através do convênio com a Comunidade
Cidadania e Vida (COMVIDA).
O
projeto visa ofertar um serviço de promoção da saúde, cidadania, em Salvador.
Desde 2014, a equipe do Ponto de Cidadania desenvolve um trabalho reconhecido nacionalmente
com o objetivo de “Oferecer um espaço de acolhimento para pessoas em situação
de rua, usuárias de substâncias psicoativas, com o propósito de fomentar o
cuidado com a saúde, o autocuidado e a cidadania”.
No
entanto, no dia 31 de agosto desse ano, o projeto foi interrompido. Em Nota
Oficial, a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social
(SJDHDS).
Abaixo
reproduzimos os escritos de psicóloga Patrícia Flach
O Ponto de Cidadania acabou?
A resposta objetiva a esta
questão seria “sim”, já que no último dia 29-05, a Secretaria de Justiça, do
Governo do Estado, através da SUPRAD, informou o fim do contrato emergencial do
Ponto de Cidadania e a necessidade de interrupção imediata das atividades. Mas
a equipe, “teimosamente”, ou melhor, eticamente, mais uma vez, não parou. Os
trabalhadores, mesmo com o contêiner fechado, continuam a ir para as ruas,
escutar as pessoas, acolher seus sofrimentos, acompanha-las a serviços de
saúde, sociais ou jurídicos, ampará-las em suas dores, tão grandes, tão grandes
que indizíveis. Entre o sofrimento solidário com a tristeza desse outro e a
alegria que retorna a nós quando honrosamente nos é permitido “cuidar” , pelo “Ponto”,
como ficou conhecido, passaram muitas pessoas, para além daqueles em “situação
de rua”, a quem o serviço inicialmente se destinara: estudantes e trabalhadores
em formação, pessoas da comunidade que queriam “ajudar”, crianças e
adolescentes que utilizam as praças e ruas nas proximidades ao serviço,
profissionais e pesquisadores de vários lugares do mundo, familiares em busca
de seus entes queridos, religiosos, curiosos e até alguns poucos políticos mais
“sensíveis à causa”... Muitos passaram
pelo “Ponto” e levaram ele consigo... Nos gestos acolhedores de trabalhadores e
usuários, e nos “olhares entrecruzados”, todos fomos transformados. “Seu olhar
transforma o meu”! Não ao acaso esta música de Arnaldo Antunes foi escolhida
por nós, profissionais, para representar o “Ponto” em toda sua poesia e
musicalidade. O horror das violências relatadas e vivenciadas no cotidiano das
ruas se transformava, para nós, em esperança, diante do olhar corajoso e da
inimaginável capacidade de resistência “dessas pessoas” que permanecem vivas,
quando marcadas para morrer, mostrando-nos que o Ponto de Cidadania é muito
mais que o “contêiner” que o fez conhecido, mas o encontro entre humanos em
toda sua complexa simplicidade e radicalidade ética de defesa da vida. Então, a
resposta a questão que iniciou esse relato é “NÃO”, o Ponto de Cidadania não
acabou, nem acabará, pois que resistentemente continuaremos na luta, mesmo
sabendo que, como nossos usuários, nascemos condenados à morte súbita, fora de
hora e de lugar, a morte evitável, pois que por negligência, por descaso, por
preconceito, por nada... morte que nos torna menos humanos e,
contraditoriamente, mais humanos, enquanto resistimos... Afinal, “mudar o
mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é utopia, é justiça!”
Minha eterna gratidão aos
trabalhadores e amigos, os de hoje e os que já passaram pelo Ponto... aos
usuários, os que continuam vivos e aos que já se foram..., pois, com vocês, me
tornei uma pessoa melhor
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